Lançamento Essa Tal de Bossa Nova

Para celebrar os 50 anos do evento em que a bossa nova foi apresentada ao mundo, no show do Carnegie Hall, em NY, e também os 75 anos de Roberto Menescal, um dos criadores do movimento, a obra revela histórias inéditas e passagens divertidas dos bastidores da bossa nova e da MPB
Roberto Menescal e a jornalista Bruna Fonte lançam, pela Editora Prumo, o livro "Essa Tal de Bossa Nova", que reúne histórias dos bastidores de um dos mais importantes movimentos da música mundial. Consagrado como um dos criadores da bossa nova, Menescal revela episódios desconhecidos do público, percorrendo desde os primeiros encontros entre aqueles que viriam a ser os protagonistas do movimento made in Brazil, até a época em que assumiu a direção artística da PolyGram, onde fez história ao lado de artistas como Raul Seixas, Caetano Veloso, Chico Buarque, Gal Costa e Novos Baianos. A obra celebra, também, os 75 anos de Menescal, que, além de grande músico, é um dos maiores arquivos vivos de histórias e personagens da música brasileira.
O lendário show do Carnegie Hall, que apresentou pela primeira vez a bossa nova ao público e à cena musical dos Estados Unidos, mudou os rumos do gênero musical que nascera anos antes no apartamento de Nara Leão, musa da bossa nova. Maysa, Astor Piazzola, Roberto Carlos, Dorival Caymmi e Villa Lobos são alguns dos personagens que povoam essas histórias contadas por Menescal à parceira Bruna Fonte, que entrevistou durante cinco anos o compositor de “O barquinho”, uma das canções-ícones da bossa nova. Se o primeiro resultado deste trabalho foi um livro com mais enfoque na vida pessoal do artista, Essa tal de Bossa Nova também traz relatos dos bastidores de gravações, tanto da bossa nova quanto da MPB, lembrando episódios inéditos protagonizados por Chico Buarque, Gal Costa, Caetano Veloso, Fábio Júnior, Tim Maia, Sidney Magal, Alcione, Raul Seixas, entre outros.
“Na verdade o Carnegie Hall foi o divisor de águas para todos aqueles que integravam a turma da bossa nova, pois a partir dali eles - que ainda eram muito amadores - foram obrigados a ’profissionalizar’ a bossa nova”, afirma Bruna Fonte. “Após o show, os principais participantes acabaram ficando nos Estados Unidos, seguindo cada um seu próprio rumo. O primeiro a voltar foi Menescal - porque estava com casamento marcado - e como a turma toda estava fora, ele seguiu um caminho mais voltado para a produção”. Logo no início dos anos 70, Menescal foi convidado por André Midani para trabalhar na PolyGram, onde passou 15 anos vivendo o auge da MPB ao lado de grandes nomes do cenário musical brasileiro.
Entre algumas passagens curiosas do livro, Menescal narra duas ocasiões em que foi interrogado durante a ditadura. Uma vez, ele foi levado ao DOPS e, na outra, ele e o compositor Paulinho Tapajós foram interrogados pela Polícia Federal no aeroporto de Brasília, sob a suspeita de estarem se preparando para sequestrar um avião.
Durante o regime militar, uma parte do trabalho de Menescal era lidar com a censura. Eram tempos difíceis, mas também muito criativos, pois todos estavam em busca de novas formas de burlar os censores usando metáforas e frases de duplo sentido em críticas ao governo. O músico conta no livro que capas, letras, gravações, tudo tinha que ter a aprovação oficial para ser lançado. “Muitas coisas que a gente mandava acabavam sendo vetadas, mas algumas passavam sem que eles percebessem. Mas, quando eles finalmente percebiam, era comigo que a censura tirava satisfação”, diz Menescal. “Chegou um ponto em que eu era chamado à Polícia Federal com tanta frequência, que comecei a ficar com medo de acabar sendo preso”.
Ele narra no livro a negociação com a censura para que o lançamento do disco “Caetano e Chico juntos e ao vivo”, registro de um show em Salvador, em 1972, fosse liberado. Umas das músicas deste disco – “Ana de Amsterdam” – foi vetada pela censura, pois a letra dizia “sacana” (“Sou Ana/Da cama/da cana/fulana, sacana”). Eles pediram para que mudassem a letra. Menescal tentou explicar que, por ser um álbum gravado ao vivo, a gravação não poderia ser refeita. Apesar de sua insistência, não teve jeito. “Contei ao Chico que a música havia sido censurada e perguntei a ele se poderia substituir “sacana” por “bacana”. Mesmo sem entender como eu faria isso, ele concordou. Eu então gravei no estúdio o som da consoante “b” com a minha voz e colocamos essa gravação em cima do som da consoante “s” da gravação original”, conta Menescal.
Outra história divertida narrada por Menescal no livro, entre muitas, é a ocasião que ele descobre que, em uma reunião com os Novos Baianos, após terem fechado um trabalho com a PolyGram, um dos músicos do grupo havia colocado ácido no seu café para ele ficar mais “alegrinho”. “Cheguei na PolyGram me sentindo muito louco (...) Fui para casa e não conseguia dormir, passei um dia inteiro me sentindo assim”. Menescal ficou furioso quando descobriu, mas sabia que vivia o auge do movimento hippie, uma época de muitas loucuras no mundo inteiro. “Depois que esse tempo passou, cada um foi se encontrando e fazendo as suas carreiras de uma forma muito interessante".

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